Casal de guitarristas renomados fala sobre seu primeiro álbum em parceria

Richie Sambora e Orianthi Panagaris | Foto: Joseph Llanes

Richie Sambora e Orianthi possuem carreiras que falam por si só. O primeiro, como guitarrista do Bon Jovi, uma das bandas mais bem sucedidas da história. A segunda, por ter conseguido, ainda muito jovem, o posto de guitarrista para ninguém menos do que Alice Cooper e Michael Jackson. Além disso, ambos possuem carreiras solo, já tendo lançado bons álbuns individualmente. Agora que estão casados, resolveram juntar, além de sua vida, sua criatividade, e formaram o RSO (Richie Sambora Orianthi), um projeto no qual pretendem explorar todas as suas facetas como músicos. Batemos um papo com os dois para saber mais detalhes sobre isso e suas carreiras.

Vamos começar falando sobre trabalhar em conjunto, porque ambos já fizeram álbuns solo. Como é trabalhar em parceria?
Orianthi Panagaris: É uma sonoridade nova que criamos e estamos muito empolgados com isso. E com (produtor) Bob Rock envolvido é algo muito forte e que nos deixa empolgados. Há algo para todos os gostos nas músicas.

Richie Sambora e Orianthi Panagaris | Foto: Newland Welinton

Amamos todos os estilos que buscamos e, basicamente, deu certo. Tentamos manter um certo padrão no som, para não ficar muito ‘jogado’. Não é algo fácil” – Richie Sambora

Não há como rotular o álbum como sendo de rock, country, jazz ou blues. Vocês têm essas influências de todos os lugares, mas isso é só por ser o primeiro e, portanto, queriam colocar todas as influências ali? Falem também sobre trabalhar com Bob Rock, que Richie não trabalhava desde “Keep The Faith” (álbum do Bon Jovi, de 1992) e é conhecido por produções bombásticas com o Mötley Crüe (“Dr. Feelgood”, 1989) e o Aerosmith (“Permanent Vacation”, 1987, como engenheiro de som).
Richie Sambora: Ori e eu fomos tão prolíficos, que precisávamos de alguém que viesse e analisasse o que fizemos pra ver o que valeria a pena usar, já que tínhamos uma enormidade de coisas. Apenas decidimos que tentaríamos fazer várias coisas que sempre quisemos. Amamos todos os estilos que buscamos e, basicamente, deu certo. Tentamos manter um certo padrão no som, para não ficar muito “jogado”. Isso não é algo fácil de fazer, foi como transformar ideias para três álbuns em apenas um.

RSO é um projeto e banda que seguirá em frente, haverá outros álbuns ou é uma parceria agora e, no ano que vem ou em 2020, haverá outro álbum solo de Richie e Orianthi? Tudo pode existir ao mesmo tempo?
Orianthi: Acho que os dois podem existir ao mesmo tempo. Temos fãs que gostam dos dois. Richie tem músicas que são mais para o trabalho solo, assim como eu. No futuro, serão três em um, entende? Somos eu, ele e o RSO. Temos tantas músicas que fizemos juntos que com certeza haverá outro álbum.

Falem com mais detalhes sobre Bob Rock e a participação dele. Sei que ele ajudou na escolha das músicas, mas, como produtor, o que Bob traz e por que o escolher para esse projeto?
Sambora: Bem, em primeiro lugar, Bob e eu nos conhecemos há muito tempo. Ele teve participação em “Slippery When Wet” (1986) e “New Jersey” (1988). Claro, no “Keep The Faith” foi importante para a banda, já que significou uma ruptura para o Bon Jovi bem no meio da era grunge. E aí, na noite em que conheci Ori, fazia anos que não o via. E foi aí que estabelecemos contato novamente, mas demorou uns dois anos para começarmos a trabalhar. E ele é conhecido pelo trabalho com o Metallica (“Black Album”, 1991) e Mötley Crüe, mas produziu álbuns do (cantor de jazz) Michael Buble que, juntos, também venderam milhões. O alcance do que ele é capaz de fazer é insano, acho que esteve em uns 300 milhões de álbuns vendidos se contar como produtor, compositor ou o que seja. Sabe muito sobre muita coisa e é como se fosse um irmão.

Orianthi, quero falar sobre seu período com Alice Cooper. O que aprendeu de um veterano experiente como Alice, sobre fazer um show teatral? Como foi trabalhar com ele e o que essa experiência significou para você, pessoalmente e profissionalmente?
Orianthi: Sim, aprendi muito sobe como fazer um show. É como uma produção teatral com cobras, sangue, guilhotinas e ele dá 100% toda noite. A banda ensaia por meses antes de iniciar uma tour. As coreografias, tudo. Há muito trabalho por trás daquela produção, muito mesmo. Eu adorei. Interpretava uma personagem também, a ‘Zumbi Irritada’. Tinha sangue em mim todas as noites. Foi como celebrar Halloween toda noite por três anos. Foi ótimo, porque você tira as pessoas da realidade. Se vai a um show como esse, sente-se bem. Alice é a pessoa mais legal do mundo e ele me apresentou a Richie. Foi demais fazer parte de todo aquilo durante aquele período, uma ótima experiência.

Sambora e Bon Jovi no Rock And Roll Hall Of Fame | Foto: Kevin Mazur/Getty Images para o The Rock and Roll Hall of Fame/rockhall.com

Nos reunimos [Bon Jovi] depois de quatro anos para tocar e foi uma semana inteira. Foi bem legal, para falar a verdade. Não foi esquisito nem nada disso” – Richie Sambora

Richie, estamos na esteira da entrada do Bon Jovi no Rock and Roll Hall of Fame. Fale sobre isso. Sou um grande fã de Bon Jovi e sigo a banda desde o “7800° Fahrenheit” (1985)…
Sambora: (risos). Obrigado por isso. É sério, obrigado mesmo.

Como fãs, achamos que a primeira vez que foram indicados, deveriam ter entrados sem contestação, mas tiveram que esperar e esperar. Agora que aconteceu, como foi? Justificou uma carreira ou foi meio indiferente? Fale sobre a experiência e o que ela significou…
Sambora: Toda vez que se ganha um prêmio é algo muito legal. E, sinceramente, estava esperando sentado. Não estava pensando nisso. Não era algo que estivesse na minha cabeça. Mas foi bom depois de sermos negados tantos anos seguidos. Nos reunimos depois de quatro anos para tocar e foi uma semana inteira. Foi bem legal, para falar a verdade. Não foi esquisito nem nada disso. Às vezes, uma banda é como um sistema de castas, você só precisa colocar tudo no mesmo lugar de antes e não se esquecer. E eu estive ali por 31 anos. Foi bem fácil e divertido.

Mencionei “7800° Fahrenheit” que, para mim, é um álbum que foi negligenciado na carreira do Bon Jovi. Por que você acha que ele não obteve o mesmo respeito?
Sambora: Em primeiro lugar, acho que foi mal produzido e mixado, e isso se deu porque nossos produtores na época acumularam trabalho. Trabalhavam conosco durante o dia e com outra banda durante a noite. Isso, obviamente, deixou as coisas um pouco tensas. Tecnicamente é OK, não sei se tínhamos músicas tão boas, mas a produção deixou a desejar. Se houvesse uma produção no estilo Bob Rock, a história seria outra.

Devo concordar com você nisso.
Sambora: Achei que as músicas ficaram muito leves. Na verdade, fiquei surpreso, após cair na estrada com Judas Priest, Scorpions e esse tipo de banda, que não falaram mais mal ainda da gente.

Posso imaginar.
Sambora: Sim, você pode.

Posso, porque sempre achei curioso ao observar a ascensão da banda que vocês eram categorizados como metal, fazendo shows com Judas e o Bon Jovi não era exatamente metal.
Sambora: Só gostaria de dizer que fora dos EUA, nunca tivemos problema. Uma vez que fomos para a Europa e o “Slippery” fez sucesso, aí sim as coisas se normalizaram.

Michael Jackson e Orianthi | Foto: reprodução

Recebi uma mensagem de Michael Jackson na minha página no MySpace, dizendo que ele iria me ligar naquela noite para que me juntasse à banda nos ensaios para a turnê” – Orianthi

Na cerimônia de entrada no “Rock and Roll Hall of Fame”, Hugh McDonald (atual baixista do Bon Jovi) também foi indicado. O quanto ele tocou mesmo naqueles primeiros álbuns? Sabemos que tocou em “Runaway” (faixa de “Bon Jovi”, 1984), estava em todos os discos e há essa suspeita de que tocou um pouco mais do que Alec (Alec John Such, baixista original). Isso é justo de se dizer?
Sambora: Sim, na época, sim. E isso não é uma crítica a Alec. Ele só demorava um pouco mais para conseguir criar alguma parte e nós estávamos evoluindo bem rápido. Hugh era nosso amigo, especialmente meu amigo. Já tocava com ele em sessões desde que tinha 18 anos. Foi um dos primeiros caras que me ajudou. Nos conhecíamos há muito tempo e é muito merecido. E eu advoguei muito em favor disso. Ele já é baixista da banda há muito tempo e criou sim algumas daquelas partes nos álbuns antigos. Não é dizer que Alec não fez o trabalho, mas Hugh ajudou, com certeza.

Orianthi, as pessoas ouviram falar de você de uma forma mais detalhada quando tocou na banda de Michael Jackson. Como uma jovem da Austrália aparece nos EUA e acaba tocando com Michael Jackson, Alice Cooper e depois Richie Sambora? O que fez para conseguir isso?
Orianthi: Foi muito trabalho. Larguei a escola aos 15 anos porque já tocava em três bandas cover, mas estava tentando compor e produzir eu mesma. Fiz uma demo em meu estúdio e mandei para todas as gravadoras que consegui encontrar o contato. Finalmente, consegui um contrato com Jimmy Iovine (presidente da Interscope Recoords) aos 20 anos. Vim para os EUA para gravar meu primeiro grande álbum e enquanto gravava, recebi uma mensagem de Michael Jackson na minha página no MySpace, dizendo que ele iria me ligar naquela noite para que me juntasse à banda nos ensaios para a turnê. Liguei para a assessoria e pedi para falar com ele. Conversamos, eu disse que aceitava e ele disse que queria muito que eu fosse ao ensaio no dia seguinte. Eu fui, toquei “Beat It” e “Wanna Be Startin’ Somethin'” Não contei a ele que estava no meio da gravação de meu próprio álbum, nem à minha gravadora sobre o convite, só aceitei e entrei na banda. Fizemos uma turnê por três meses e foi uma experiência inesquecível. Foi também bem traumatizante perto do final, porque foi uma situação insana quando ele morreu. Mas eu tinha um álbum pronto para lançar e Jimmy disse que tínhamos que fazer isso. Aí tive uma música que chegou às paradas nos EUA, Austrália e Japão e tive que fazer uma turnê com a minha banda. Mas, para ser sincera, estava tão arrasada com o que havia acontecido com Michael que não aproveitei nada. Depois disso, resolvi gravar um álbum independente com David Stewart (Eurythmics). Quando estava gravando, recebi uma ligação no estúdio de Alice Cooper, dizendo que seu guitarrista havia saído para se juntar ao Thin Lizzy (N.T.: que depois se tornaria o Black Star Riders) e que teria adorado compor comigo no “American Idol”. Falou isso porque eu trabalhei com Bob Ezrin no programa. Enfim, como adoro Alice, decidi sair em turnê com ele e acabaram sendo três anos. Aprendi 25 músicas dele em uma semana.

A decisão em deixar o Alice Cooper foi porque conheceu Richie e viu que tinham algo especial que merecia ser explorado?
Orianthi: Sim.

Então não foi que você estava cansada e era coisa demais, não queria mais sangue e todas as coisas.
Orianthi: Não, não. Nada disso. Eu amo demais Alice. Nós tínhamos a turnê com o Mötley Crüe marcada e seria de novo bem extensa. Seria 8 ou 10 meses. Mas decidi que faria o álbum com Richie por causa da química e por já termos as músicas compostas. Mas Alice é uma pessoa muito inteligente e a banda era demais. Éramos como irmãos, saímos depois dos shows.

Richie Sambora | Foto: Joseph Llanes

Obviamente não foi o álbum que a gravadora esperava [‘Stranger in This Town’], mas não era isso que eu queria. Queriam um álbum do Bon Jovi, e é claro que não foi o que aconteceu” – Richie Sambora

Richie, durante todos esses anos você ajudou a compor “You Give Love a Bad Name”, “Wanted Dead or Alive”… No que consiste uma boa música? Qual é o seu segredo e como você compõe?
Sambora: Acho que deve ser uma história, que obviamente tem relação com a humanidade. Todo mundo passa por situações humanas em sua vida. Um compositor meio que espelha essas situações e isso não só é um consolo para as pessoas, mas também entretenimento. Há algo como um sentimento de comunidade quando as pessoas pulam ouvindo a mesma música, porque estão com o mesmo sentimento. Uma parte é isso. Normalmente, compomos começando pelo título e ele lhe dá um ponto de partida. Como se fosse uma história ou um filme. Às vezes vêm de um lick. Para mim, na maioria das vezes, é a partir de uma melodia ou ideias para as letras.

Na época de seu primeiro álbum solo, “Stranger in This Town” (1991), o Bon Jovi vivia uma onda de popularidade que não dá nem para descrever. Como foi se afastar disso e ter a sua voz nas músicas, além de sua direção artística e seu álbum? Em que momento sentiu que precisava fazer isso?
Sambora: Eu mal podia esperar para fazê-lo. Eu precisava me afastar de tudo aquilo. Obviamente não foi o álbum que a gravadora esperava, mas não era isso que eu queria. Queriam um álbum do Bon Jovi, e é claro que não foi o que aconteceu. Eu amo esse disco, grandes músicos tocaram nele. Tive a chance de fazer uma turnê sozinho. Se quer saber se houve alguma ansiedade, sim, não via a hora de ter a oportunidade. Eu queria ser o vocalista, passar a minha mensagem e aquilo foi um salto em termos de crescimento, já que aquelas letras possuem uma substância absolutamente diferente. É assim que as músicas funcionam, te ensinam no caminho, são como um diário de sua vida.

Quero falar sobre a perspectiva de uma tour. Quais são os planos? Será uma turnê extensa de seis meses ou farão alguns shows selecionados?
Sambora: Essa é uma daquelas coisas que, atualmente, precisa crescer. O que acontece no momento é que a percepção das pessoas é de que elas conhecem a nossa vida, pelo o que nós mostramos a elas pela nossa carreira. Mas o que temos aqui é algo totalmente diferente, há vários aspectos. Por isso há tantos estilos no álbum.

Todos nós sabemos o que aconteceu em Calgary (N.T.: Richie simplesmente não apareceu para o show do Bon Jovi na cidade canadense em 2013 e nunca mais voltou para a banda). Olhando hoje, era simplesmente hora de seguir em frente? Houve algum momento em que acordou e se perguntou o que havia feito, ou sentiu alívio?
Sambora: Era hora. Não estávamos indo a lugar algum. Eu disse para mim mesmo que todos eram grandes músicos, mas estávamos indo em direções diferentes. Foi o que pensei. E, para ser sincero, a agenda de shows era muito absurda. Mesmo bandas gigantescas como Rolling Stones e U2 tiram três anos de folga entre essas enormes excursões que fazemos. Nós nunca fizemos isso! O que posso dizer? Estava exausto, minha filha precisava que eu estivesse em casa, queria estar com meus filhos. Foi isso. Não me arrependo. Acabou sendo de uma maneia meio merda, mas o que vai se fazer? Às vezes, tem que ser assim. E mais uma coisa: as pessoas não conhecem a história pregressa. Pense em um casamento de 31 anos com outros quatro caras. Muita coisa aconteceu, mas ninguém precisa falar sobre isso. Há um histórico, como em qualquer relacionamento. Logo, não é tão simples assim. Teria muita besteira para falar, mas não quero entrar nisso.

Capa de "Radio Free America", do RSO

Acho que o que temos no momento é uma circunstância bem fácil de trabalhar, na qual as pessoas acabaram de nos conhecer. Nós já temos dez músicas prontas para o próximo” – Richie Sambora

Não vamos, mas sabemos como fãs que após a turnê de “New Jersey”, que foi insana, fizeram 230 shows…
Sambora: (interrompendo) 262.

Você precisa parar um pouco e respirar. E você destacou U2, Rolling Stones e há também até o Paul McCartney. Em algum momento, você precisa respirar e viver um pouco.
Sambora: É aí que nascem as músicas. Vivendo a vida. É assim que seus sentimentos afloram e você tem a paz de espírito para observar a cultura e outras pessoas e se identificar. Isso é essencial para mim. Pessoalmente, como compositor, preciso sentir conexão. O que acontece com as pessoas, o que estão sentindo.

Para finalizar sobre o Bon Jovi, por que no “Slippery When Wet” vocês deixaram “Edge of a Broken Heart” de fora?
Sambora: Na verdade foi para a trilha sonora de um filme. O álbum já estava completo e essa sobrou. Até esqueci o nome do filme, mas foi por causa disso.

Não foi o “The Disorderlies” (N.T.: filme independente de 87, sem título no Brasil)?
Sambora: Sim, foi esse mesmo.

Para futuros segundo e terceiro álbuns, agora que já experimentaram com diferentes estilos e os colocaram nessas 15 músicas, pretendem focar o próximo em ser apenas blues, country ou rock? Ou também querem ter a mesma liberdade?
Sambora: Acho que o que temos no momento é uma circunstância bem fácil de trabalhar, na qual as pessoas acabaram de nos conhecer. Nós já temos dez músicas prontas para o próximo e 50 na espera.
Orianthi: E compomos mais todos os dias.

Orianthi Panagaris e Richie Sambora | Foto: Tim Tronckoe
Orianthi Panagaris e Richie Sambora | Foto: Tim Tronckoe

Transcrito e traduzido por Carlo Antico.

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