King Diamond: o mestre do horror musical

Em bate-papo com Rockarama, o Rei falou sobre histórias de assombração, detalhes preciosos da turnê que chega ao Brasil e a inspiração para o próximo álbum

King Diamond logo | Rockarama

No dia 25 de junho, King Diamond chega a São Paulo para apresentação única da turnê que executa, na íntegra, o álbum “Abigail”, o segundo de sua carreira solo, lançado em 1987, e clássico inegável do heavy metal. Essa promete ser uma apresentação memorável. É isso que Sr. King nos faz imaginar durante a conversa, não só pelo que sabemos do que ele é capaz, mas pela forma como detalha o cenário e as sensações de levar ao palco a assustadora história da família LaFey. E ele garante: está em sua melhor forma vocal. Que venha o Liberation Festival!

Por que você escolheu “Abigail” como tema principal da turnê?
King Diamond: Em 2015, decidimos tocar o disco em sua totalidade. Várias razões nos levaram a isso, uma delas é que estávamos em turnê pelos EUA com o Slayer (Mayhem Festival) e colocamos mais duas músicas de “Abigail”. Foi durante tudo isso que sugeri que fizéssemos o álbum inteiro. Nós nunca tínhamos feito um álbum inteiro antes. E quanto mais músicas nós tocávamos, mais nos sentíamos no mesmo clima, mais vinha esse sentimento oitentista, de quando “Abigail” foi lançado. Nós realmente nos sentimos como se fosse 1987, com a forma que o som do “Abigail” original soava, que é diferente da forma que os discos remasterizados soam. Durante essa turnê de 2015, achei uma cópia original ainda lacrada. Abri porque queria ouvir como ela soava. E soava incrível! Pensei: “cara, nós devíamos trazer isso de volta, fazer uma versão que seja a mais próxima da original possível, porque ‘Abigail’ merece”. Enfim, são tantas coisas em torno desse álbum que o torna especial… Ele foi o primeiro do gênero, foi o primeiro álbum conceitual com uma história de horror. Outras bandas já haviam feito álbuns conceituais, mas nenhuma de horror. A música era muito diferente em som e estilo, e o estilo “operesco” também era novo. Havia tantos elementos novos quando “Abigail” foi lançado, que foi inevitável o impacto profundo que ele teve nas pessoas que o ouviram. E todas essas coisas ainda estão aqui, nós podemos sentir agora que podemos tocar e levar para a estrada.

King Diamond | Fotos: Edu Lawless
King Diamond | Fotos: Edu Lawless

Outras bandas já haviam feito álbuns conceituais, mas nenhuma de horror” – King Diamond

E como levar isso para o palco?
King Diamond: O show funciona muito bem. Não que ele possa ser reproduzido como uma peça ou um filme, mas você pode ter muitas sensações semelhantes. É uma apresentação muito teatral. E tudo que a gente toca nessa turnê é coisa antiga, numa próxima será diferente, mas nessa todas as músicas são de álbuns antigos: “Fatal Protrait”, “Them”, “Conspiracy”, “The Eye”, “Melissa” e “Don’t Break the Oath” (N.R.: Os dois últimos, clássicos do Mercyful Fate). E isso tudo funciona de uma forma fantástica. As músicas que foram escolhidas e a ordem foram super específicos, tinha que ser desse jeito. Tem uma fluência toda particular. Quando você assistir ao show vai entender o que estou dizendo. O palco inteiro muda inúmeras vezes por causa da variedade dos panos de fundo. Existem quatro sets de pano de fundo e cada set tem três panos de fundo diferentes. Tem o pano principal e logo atrás existem dois laterais, que dão maior profundidade. Temos luzes extras que criam visuais únicos. O último, por exemplo, de “Abigail”, a mansão tem as janelas moldadas no pano, então você tem ainda mais profundidade e luzes pelas janelas. Existe uma enormidade de coisas para ver no palco, corvos por exemplo. Tente achar cinco corvos no cenário. Têm também esses espelhos góticos pendurados, eles até parecem janelas, mas eles são espelhos. O público, dependendo do ângulo, poderá se ver nesses espelhos, mas se você não conseguir se ver, os espelhos pareceram janelas e você terá a impressão de que tem um monte de gente do lado de fora. Enfim, muita coisa mesmo, tem até o caixão da Abigail sendo carregado por dois monges. Eles tiram a boneca do caixão, nós temos várias, e elas parecem muito reais, até demais (risos), eu nunca vi bonecas tão reais! Tem uma parte que a atriz que faz Abigail é levada pelos “black horsemen” e tem sua cabeça enfiada na bateria. É tudo tão brutal. Eu acabo nunca olhando para ela, eu olho para o público, porque eu gosto de ver a cara deles, que geralmente tem uma expressão de “não é possível” (risos). Mas depois vem um sorriso, porque é tudo exagerado. Então, com certeza, está tudo lá: o ambiente sombrio, a sensação de horror e eu garanto que, aqueles que estiverem presentes nunca se esqueceram do que viram.

Fantástico! Em comparação aos shows dos outros países, teremos alguma surpresa?
King Diamond: Essa é a primeira vez que levamos nossa produção completa para o Brasil (e também para o México). E esse é exatamente o mesmo show que fizemos nos EUA. Nós queremos que o público tenha a chance de ver o que o público daqui viu. Não queremos que vocês percam nada, que vejam menos que o público dos EUA ou que o da Europa viram. 
É claro que nós poderíamos tocar “Voodoo” ou “The Puppet Master”, mas as que tocamos agora são aquelas que contam uma historia. Na próxima vez que voltarmos – esperamos que não seja daqui a vinte anos (risos) – , nós tocaremos um set completamente diferente. Mas, no presente momento, seria loucura mudarmos o set, porque vocês realmente precisam ver esse show. Nós nunca tivemos uma equipe tão boa, nosso engenheiro de som nunca foi tão bom. Tudo é especial, “Helloween”, por exemplo, com a luz laranja, é tudo tão intenso, ou a livraria de quando nós tocamos “Melissa”, a madeira desgastada, a luz antiga. Eu e Andy (LaRocque) fizemos tudo juntos para que todo esse clima chegasse a vocês. Será de outro mundo. Vocês têm que ver! Tudo estará lá! Das guitarras acústicas até os ossos. Nada de ossos de plástico para distrair a plateia.

Desses shows você acumulou material para um DVD, certo?
King Diamond: Estamos preparando um Blu-Ray/DVD de dois shows que fizemos, um nos EUA e outro de um grande festival que fizemos no ano passado na Europa. Eles foram bem diferentes um do outro. Um foi filmado ao ar livre e o outro em um ambiente fechado. O do ambiente fechado, se não me engano, foi filmado com câmeras próprias para ambientes noturnos, mas além de tudo isso, tem o nosso equipamento. Nós tínhamos conosco GoPro noturnas gravando cada show. E cada show elas eram colocadas em posições diferentes. Então há uma enormidade de ângulos que podem ser usados pelo diretor. Como no caso dos dois monges que tiram a tampa do caixão, eu tenho que olhar dentro do caixão, porque tenho que tirar o bebe de lá de dentro. E tinha uma câmera lá dentro, eles estavam me filmando de lá. Eles colocaram câmeras na cadeira de rodas da vovó, então você pode ver a cadeira de rodas se movendo, talvez até a minha mão, eu realmente não sei. Câmeras em todos os lugares, guitarras, pequenos objetos de palco, sacadas, até na plateia. Isso significa que terão tanto material, tanto extra para escolher. Isso será muito, muito interessante e surpreenderá muitas pessoas, será realmente coisa de primeira linha. E quando isso terminar, com o lançamento do DVD no fim do ano, nós partiremos para nosso projeto seguinte.

King Diamond | Fotos: Edu Lawless

Essa é a primeira vez que levamos nossa produção completa para o Brasil, e esse é exatamente o mesmo show que fizemos nos EUA” – King Diamond

Um novo álbum…
King Diamond: Sim. E será uma coisa maravilhosa também, porque eu tenho um novo estúdio em casa, então eu posso realmente me explorar, fazer coisas como corais de 40 vozes e outras coisas que não podia antes, por causa de tempo e custos. E agora tenho equipamentos do mais alto nível, porque quero que minha voz saia da melhor forma possível, mas queremos também usar os equipamentos antigos, que usamos na gravação original do “Abigail”. Minha voz nunca soou tão bem como agora, eu parei de fumar, por causa do problema que tive no coração, e mudei meus hábitos, exercícios, minha dieta, então eu quero que isso saia perfeito. Podemos fazer tudo do jeito que quisermos, não dependemos mais dos outros. E vamos fazer tudo valer na primeira porque o relógio está correndo. Andy também tem um estúdio, então podemos fazer tudo em casa, com exceção da bateria, para que Matt (Thompson) possa usar todo seu kit.

Você tem usado “The Wizard”, do Uriah Heep, na ‘intro’ dos shows e essa é também a música com a qual você aquece a sua voz para as apresentações. O que você pode nos dizer sobre essa sua conexão com a banda?
King Diamond: David Byron é meu vocalista favorito e também pela letra dessa, que tem coisas como “he was the wizard of a thousand kings” (risos), tem coisas lá que parecem que ele está falando de um fã, ou até mesmo eu me vendo ali. Ela virou a “música da banda”, volta e meia eu flagro alguém assoviando ou cantando baixinho. Eu, na verdade, não faço nada além de cantá-la. Esse é o único aquecimento que faço. E, por incrível que pareça, agora está até mais fácil. Depois do meu problema, em que eu literalmente morri e eles me trouxeram de volta durante a cirurgia, tive uma segunda chance e a abracei. Eu não menosprezo essa chance, e tento aproveitar o tempo o máximo que eu puder, porque você nunca sabe o que pode acontecer. Minha voz está muito mais limpa do que estava antes, está mais fácil cantar agora do que anteriormente. E a maioria dos cantores que tem o mesmo estilo que eu de falsete está perdendo a voz com a idade. É a natureza. Já eu fui na direção contrária, talvez até por causa do meu “acordo com o demônio”, minha voz está melhor que nunca. Até o show eu faço de maneira saudável. Existem dois momentos em que eu vou para trás do palco para esperar minha deixa. Nesse momento, tomo um Gatorade em questão de segundos, já que eu tenho que atuar e minhas marcas são extremamente cronometradas. É tudo coordenado.

Você mencionou seu ataque cardícado ocorrido em 2010. Eu gostaria de saber que mudanças isso gerou em você e se veremos referências sobre isso em futuras composições.
King Diamond: Eu respiro melhor agora, porque eu tenho peças de metal em mim. Agora tenho mais metal ainda em mim (risos). Tenho três peças de metal em meu peito que seguram minha caixa torácica, isso já regenerou, mas as peças ainda estão ali. Eles me abriram completamente com uma serra, como numa águia de sangue. Mas eu não tenho qualquer cicatriz além de uma pequena linha no meu peito, eu não levei pontos, os médicos me colaram de volta. Mas você pode sentir os metais sob a pele. É meio estranho. Quando eu abaixo, as peças entram um pouco no estômago, mas não é nada que me impeça de fazer as coisas. No aspecto filosófico e no horror eu continuo o mesmo, mas com certeza haverá algo relacionado a hospitais no próximo álbum, mas não serão coisas reais ou relacionadas a mim. Apenas uma inspiração para uma nova história.

King Diamond | Fotos: Edu Lawless

Minha voz está muito mais limpa do que estava antes, está mais fácil cantar agora do que anteriormente” – King Diamond

Como um cenário onde se desenvolverá a história?
King Diamond: Com certeza. Talvez ele nem seja desse mundo! Eu já tenho várias ideias para a história, e falando sem tentar revelar nada, serão experiências que você pode ter no decorrer da sua vida, ao seu redor. Depois de ouvir você vai dizer “ah, foi isso que ele quis dizer”. Pode não fazer sentido agora, mas fará quando ouvir. Isso dará uma dimensão extra para o enredo. Teremos muito disso.

Você é uma pessoa espiritualizada. Gostaria que você comentasse um pouco as suas crenças e experiências.
King Diamond: Eu realmente passei por situações em que forças invisíveis estavam em ação. Até mesmo na minha casa. Esta, que moro agora, eu construí, então ninguém havia morado aqui antes, mesmo assim há lugares que chamo de lugares frios, em que coisas estranhas acontecem. Mas nada comparado ao meu antigo apartamento em Copenhague (DIN), que era totalmente assombrado. Existem muitos fatos reais nos álbuns que ocorreram lá, mas foram modificados para se encaixarem na narrativa. Por exemplo, em “House of God”… eu realmente tive, por pouco mais de um ano, um lobo chamado Angel. Foi um presente que não deveria ser dado, já que um lobo não deve ficar preso em uma casa. Eu me apeguei muito a ele, mas tive que doá-lo para uma reserva. E isso inspirou um pequeno trecho em “Goodbye”. Também tem a música “So Sad”, escrita para meu gato Ghost, que morreu e foi um período horrível para mim. Claro que essas músicas precisam respeitar uma história, e por isso elas foram modificadas. Mas muitas coisas são transcrições literais, como em uma música do Mercyful Fate sobre copos que flutuam em pleno ar. Isso realmente aconteceu em meu antigo apartamento. Meu irmão viu, eu vi, meu amigo viu. Nós estávamos bebendo nossa primeira cerveja e o copo de meu irmão começou a flutuar. Timi (Hansen) também teve várias experiências lá, muitas vezes ele foi tocado por coisas que não estavam lá e uma garota teve seu cabelo puxado. Até mesmo jornalistas passaram por situações como essa. Uma vez um jornalista que estava fazendo uma sessão de fotos decidiu ir embora porque ouviu algo rosnando para ele no banheiro e decidiu partir duas horas antes do combinado. E isso aconteceu diversas vezes com outras pessoas.

Por quanto tempo você morou lá?
King Diamond: Muitos, muitos anos, muitos álbuns foram compostos lá, “Abigail”, por exemplo. Eu morei lá até me mudar em 1992 para os EUA.

Sr. King, foi uma honra conversar com você. Até o dia 25 de junho!
King Diamond: Foi um prazer conversar com você e “Stay Heavy”.

King Diamond | Fotos: Edu Lawless
King Diamond | Fotos: Edu Lawless

Colaborou: Guilherme Valente Dias

Serviço – LIBERATION FESTIVAL 2017:
Bandas: Kind Diamond, Lamb of God, Carcass, Heaven Shall Burn e TEST
Data: domingo, 25 de junho de 2017
Local: Espaço das Américas
Endereço: Rua Tagipuru, 795 (ao lado do Metrô Palmeiras – Barra Funda)
Abertura da casa: 16h
Evento Facebook: www.facebook.com/events/1806648852919135

SETORES/VALORES:
- Pista: R$ 300,00 (inteira) | R$ 150,00 (meia-entrada)
– Pista Premium: R$ 500,00 (inteira) | R$ 250,00 (meia-entrada)
– Mezanino: R$ 500,00 (inteira) | R$ 250,00 (meia-entrada)
Informações e compra de ingressos (ponto de venda sem taxa de conveniência):
Bilheteria do Espaço das Américas, de segunda a sábado, das 10h às 19h.
orma de pagamento: somente em dinheiro
Compra por telefone: Ticket360: (11) 2027.0777
Compra pela internet: www.ticket360.com.br/evento/6568/liberation-festival-2017-com-king-diamond

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