Cidade no extremo noroeste americano tem bem mais a oferecer do que o estilo musical que a deixou famosa

Bela captura de vista aérea de Seattle | Foto: Mike Reid
Bela captura de vista aérea de Seattle | Foto: Mike Reid

Muita gente que cresceu nos anos 1990, sob forte influência da MTV, ficou com a impressão de que Seattle era uma cidade melancólica, em que todo mundo usava camisa de flanela xadrez, estava triste e chovia todo dia sem parar. Bem, já de início, tenha uma coisa clara na sua cabeça: é tudo uma grande mentira. Exceção à chuva. Não chove sem parar, mas as precipitações são frequentes. Nada que um guarda-chuva não resolva.

Fora essa questão climática, é uma cidade alegre, com muitas opções culturais, uma beleza física privilegiada e um ótimo sistema de transporte público. Além disso, há grandes opções gastronômicas (especialmente para quem gosta de frutos do mar), cervejas artesanais da melhor qualidade e uma saúde financeira invejável.

Silver Platters, uma das maiores e melhores lojas independentes de discos dos EUA | Foto: reprodução
Silver Platters, uma das maiores e melhores lojas independentes de discos dos EUA | Foto: reprodução

Sim, Seattle é uma cidade rica. Não é para menos, afinal é onde se localizam as sedes da Microsoft, Boeing, Amazon e Starbucks, de lambuja. Tá bom pra você?

O único porém talvez seja a quantidade de pessoas na rua sob o efeito de drogas, o que é um problema típico da costa oeste americana e canadense. São inofensivos, mas é um pouco desagradável.

Aproveitando o transporte público, também é interessante uma visita à bela cidade de Bellevue. Localizada a apenas 40 minutos de Seattle, é possível ir até lá de ônibus (pagando 5 dólares), por uma estrada muito bonita, especialmente quando se passa pela ponte que cruza o mar. É o local exato da matriz da Microsoft e também onde as irmãs Wilson, do Heart, passaram toda sua infância e boa parte da adolescência. Também é onde se originou a banda Queensrÿche, em 1982. Hoje, vale muito à pena pelos restaurantes e, puxando a brasa mais para o nosso lado, a Silver Platters.

Silver Platters é uma loja independente de discos (uma das melhores e maiores dos EUA) e conta com duas localidades: essa em Bellevue e outra no centro de Seattle. Dada a situação de lojas de discos no mundo, é praticamente um oásis. Estão disponíveis CDs, vinis, DVDs e Blu-Rays (shows e filmes) de todos os estilos, camisetas e livros usados (na loja do centro). Se tiver com tempo para vasculhar, dá para achar umas raridades. E o mais incrível: desde a última vez que estive lá (em 2016), a loja melhorou muito! Se você ainda cultiva o hábito de ter cópias físicas de álbuns, é imperdível.

O Museum of Pop Culture, ou MoPOP, foi projetado pelo arquiteto Frank Gehry | Foto: EMP/SFM Archive
O Museum of Pop Culture, ou MoPOP, foi projetado pelo arquiteto Frank Gehry | Foto: EMP/SFM Archive

Se além de discos também gosta de livros, aí a coisa fica ainda melhor. Além da tradicionalíssima Barnes & Nobble, há o ótimo sebo Mercer Street Books e a belíssima livraria independente Elliot Bay Book Company.

Tudo isso já justificaria uma visita, mas é claro que somos do Rockarama. Assim, para quem compartilha de nossos gostos (Rock, Tech and Geek), eu guardei o melhor para o final.

No Seattle Centre (um centro cultural da cidade), está localizada a Space Needle (aquela torre gigante que sempre aparece quando se mostra a cidade na televisão) e o maravilhoso Chihuly Garden and Glass, há o que era conhecido como EMP (Experience Music Project). Era, porque agora ele virou o MoPOP (Museum of Pop Culture). Quer coisa mais Rockarama do que isso?

A mudança aconteceu há pouco tempo, tanto que ainda há uma parte do museu sendo reformada, onde, no futuro, haverá uma ala dedicada exclusivamente aos heróis da Marvel. Nesse local, estava uma exposição que celebrava a história do rock de Seattle com memorabilia de bandas como The Sonics, Heart, Queensrÿche, Metal Church e até Rottweiler! Havia uma parede dedicada ao movimento grunge e um hall exclusivo para Jimi Hendrix. Ao lado era a parte interativa do museu, que foi preservada, o chamado “Sound Lab”. Você pode tocar guitarra, baixo, bateria, cantar, fazer uma jam com amigos, gravar sozinho, várias coisas. Os aparelhos e os instrumentos estão lá à disposição. Para gravação precisa chamar um supervisor.

Sky Church, o maravilhoso anfiteatro do MoPOP | Foto: Brady Harvey, cortesia do Museum of Pop Culture
Sky Church, o maravilhoso anfiteatro do MoPOP | Foto: Brady Harvey, cortesia do Museum of Pop Culture

Mas falemos sobre o que realmente está no museu, que é muita coisa. Logo na entrada, há um kit Ludwig de bateria, usado por John Bonham em uma turnê do Led Zeppelin. Subindo as escadas você se encontra no maravilhoso Sky Church, uma espécie de anfiteatro com um telão gigantesco. O próprio Heart gravou um DVD lá em 2015. Ao lado estão duas exposições: “Nirvana: Taking Punk To The Masses” (a mesma que esteve em São Paulo, no Ibirapuera, em setembro do ano passado) e “Wild Blue Angel: Hendrix Abroad – 1966-1970”. Essa última com vários pertences de Jimi Hendrix da fase em que mais viajou na carreira – tem até o passaporte! E, claro, a icônica Stratocaster de Woodstock.

Em frente, há a exposição “Indie Game Revolution”, que conta a evolução daqueles que desenvolvem games sem a ajuda das grandes corporações. Você pode, inclusive, jogar alguns e tem dois fliperamas para se utilizar à vontade na entrada. Seguindo, e virando à esquerda, você pode escolher entre quatro opções: “Star Trek: Exploring New Worlds”, “Scared To Death”, “Infinite Worlds Of Science Fiction” e “Fantasy: Worlds Of Myth and Magic”.

A exposição sobre Star Trek é temporária e ficará no museu até o dia 28 de maio desse ano. Mesmo para quem não manja muito do assunto, vale à pena. Há várias roupas, naves, a linha do tempo da série e uma análise de seu impacto na sociedade americana.

Indie Game Revolution | Foto: Brad Harvey/MoPOP
Indie Game Revolution | Foto: Brad Harvey/MoPOP

“Scared To Death” é apenas sobre filmes de terror, com vários objetos interessantes. Entre eles, bonecos em tamanho natural de Jason Voorhees (“Sexta-Feira 13”), Alien e Mike Myers (“Halloween”), vídeos com entrevistas de John Carpenter e Guillermo Del Toro, além de uma parte dedicada apenas aos filmes de vampiro.

“Infinite Worlds Of Science Fiction”, como o próprio nome diz, trata do universo da ficção científica. Aqui você pode encontrar uma réplica do T-800 usado em “O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final”, o boneco usado como um dos Jawas em “Star Wars IV: Uma nova esperança” e três hoverboards usados em “De Volta Para o Futuro 2”.

“Fantasy: Worlds Of Myth and Magic” transita pelos filmes de fantasia. Aqui, também, muita coisa legal: o vestido de Dorothy e o chapéu da Malvada Bruxa do Oeste de “O Mágico de Oz” e o kilt usado por Christopher Lambert em “Highlander”. “O Senhor dos Anéis” também está representado com algumas armas e, ainda mais interessante, uma carta original de J.R.R. Tolkien para um professor da Universidade de Washington (também localizada em Seattle), em que ele admite a inspiração para o nome “Hobbit” ter vindo do livro “Babbitt”, de Sinclair Lewis.

Saindo das exposições ainda é interessante dar uma passadinha no “Science Fiction Hall of Fame”. É claro que é um Hall da fama do próprio museu, mas não há como discutir com os nomes que estão nele. E o mais legal é que aqui também há objetos relacionados aos integrantes. Por exemplo: Steven Spielberg está representado pela jaqueta de Indiana Jones e a ponta do cajado que aparece em “Os Caçadores da Arca Perdida”. George Lucas pelo sabre de luz de Luke Skywalker de “Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança”. Tolkien por uma das espadas dos nove Ringwraiths de “O Senhor dos Anéis”. Ridley Scott pelo roteiro encadernado de “Alien”.

É claro que todas as exposições têm muito mais coisas, aqui foi uma tentativa de dar uma visão geral. Mais informações em www.mopop.org.

Saindo do museu, faça uma caminhada agradável (é só descida) até o maravilhoso Lake Union e almoce no Duke’s Chowder à beira do lago, enquanto degusta uma bela cerveja, frutos do mar e admira o visual deslumbrante.

Acha que acabou? Não! No aeroporto, onde ficam os portões de embarque, vale à pena uma visita na loja oficial da gravadora SubPop. Independentemente de seu gosto musical, a parte estética é realmente de muito bom gosto. Aliás, a história de como uma gravadora underground chegou ao ponto de ter uma loja desse nível no aeroporto da cidade é bem interessante. E isto está bem documentado no capítulo de Seattle do excelente documentário “Sonic Highways”, do Foo Fighters.

Essa foi minha quarta visita à cidade, que já foi chamada de “Emerald City”, “Queen City” e “Jet City” (não, a música do Queensrÿche não é uma coincidência), e não vejo a hora de voltar. Se tiver a oportunidade, nem titubeie e vá sem medo. É diversão garantida!

Até a próxima, Seattle! | Foto: Sigma Sreedharan
Até a próxima, Seattle! | Foto: Sigma Sreedharan
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