Triptykon em São Paulo: vivendo a história

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Catarse coletiva com um set list baseado em Celtic Frost foi presente ao público

Fotos: Leandro Cherutti

Triptykon
25/05/2018, Carioca Club, São Paulo/SP

Em meio ao princípio de alerta que o bloqueio da greve dos caminhoneiros trouxe na gelada sexta-feira de 25 de maio ao Carioca Club, em São Paulo, a lenda Tom Warrior desembarcou pela primeira vez no Brasil para provar que o clima era perfeito para ele o Triptykon. Afinal, frio, caos e rebelião combinam – e muito – com a música que o guitarrista e vocalista suíço produz há mais de 35 anos. Como presente pela longa espera, Warrior recompensou os fãs com um setlist especial e emocionante.

Ainda que a casa tivesse bem longe de sua lotação máxima (algo que me deixou surpreso), Thomas Gabriel Fischer (AKA Tom Warrior), Vanja Šlajh (baixo), V. Santura (guitarra) e Stefan Häberli (bateria) proporcionaram uma verdadeira “missa negra” que levou os presentes a algo próximo de uma catarse. A começar pelo palco, com as capas dos dois álbuns do Triptykon, “Eparistera Daimones” (2010) e “Melana Chasmata” (2014), em cada lado do palco (obras do gênio H.R. Giger), demonstrando a importância que a arte sempre teve para o fundador do Hellhammer e Celtic Frost. O molho foi a iluminação, impecável durante toda a apresentação, e que ajudou a tornar o clima ainda mais pesado e obscuro.

Thomas Gabriel Fischer | Foto: Leandro Cherutti
Thomas Gabriel Fischer | Foto: Leandro Cherutti

Tudo isso, porém, eram apenas acessórios de uma liturgia macabra cujo principal foco foi, claro, a música. E ela veio como uma avalanche! Após alguns minutos de uma introdução que mostrou que o tom da noite seria nada menos que fúnebre, o quarteto subiu ao palco para iniciar os trabalhos com a mais que clássica “Procreation (of the Wicked)”. A sensação inicial era de descrença. Estava mesmo acontecendo? Sim, depois de 35 anos, lá estava Tom Warrior, com seu gorro e pintura características nos olhos, empunhando sua guitarra. Essa não era, entretanto, uma noite para descrentes. Os afortunados que tiveram o privilégio de assistir a essa verdadeira apresentação de arte continuaram entoando seus gritos e levantando os punhos para a não menos clássica “Dethroned Emperor”. Ainda que Häberli demonstrasse menos entrosamento que os demais e o volume geral saísse dos PA’s mais baixo do que deveria (embora bem definido), poder presenciar todos esses riffs ao vivo pelas mãos de seu criador foi nada menos que mágico. Tanto que, durante as primeiras músicas, o sentimento geral do público foi de deslumbramento. “Goetia”, a primeira do Triptykon, serviu também para todos saíssem do estado de choque. Cabe ressaltar a precisão dos timbres em relação ao que ouvimos no disco. Tudo contribuía para tirar o ar dos presentes.

Ar esse que faltou quando o vocalista e guitarrista iniciou as primeiras notas de “Circle Of The Tyrants”. Toda a agressividade de uma das músicas que mudou os rumos da música extrema foi capitalizada na pista, em um mar de cabeças batendo e punhos no ar. Mas, se os clássicos consagrados do Celtic Frost eram praticamente jogo ganho, como se sairiam as mais recentes? “Ain Elohim”, do álbum “Monotheist” (2006), e anunciada por Warrior como a última música escrita pelo baixista e eterno parceiro Martin Eric Ain antes de falecer, mostrou todo poder da última fase do grupo. Essa música, aliás, possui em seu “drop” antes da frase “Thus said the Lord” um dos momentos mais pesados de todos os tempos da música . Ao vivo, os pelos do braço arrepiaram.

Vanja Šlajh | Foto: Leandro Cherutti
Vanja Šlajh | Foto: Leandro Cherutti

Em dos poucos momentos para respirar, Warrior brincou que, após 35 anos, tudo o que tínhamos a dizer pra ele era “Uh!”. De fato, a cada pausa, os gritos que se tornaram característica marcante do suíço ecoavam pelo Carioca Club. E esses gritos continuaram com força quando o grupo mandou “Into the Crypts of Rays”. Para alegria dos mais saudosos, o Triptykon executou todos esses clássicos do Celtic Frost e Hellhammer em seus andamentos originais, e não com aquela lentidão exagerada que o quarteto adotava entre 2008 e 2014. Outra prova disso foi a sequência com “The Usurper”, magistralmente apresentada e que levou muitos às lágrimas.

“Altar Of Deceit”, do segundo álbum do Triptykon, serviu pra mostrar como o atual material de Warrior é relevante e não deve em nada aos clássicos que o consagraram. Uma música pesada, de clima extremamente denso e que deixou todos com o queixo caído. Mas essa noite era de celebrar a carreira do vocalista e guitarrista, por isso, a emenda com “Babylon Fell”, do sensacional “Into the Pandemonium” (1987), quebrou alguns pescoços. “Necromantical Screams” veio em seguida para provar como esse material clássico ainda é atual e agressivo, sem perder em nada ao que é produzido hoje no gênero. Riffs e linhas de voz marcantes em uma execução próxima à perfeição.

V. Santura | Foto: Leandro Cherutti
V. Santura | Foto: Leandro Cherutti

Se o show tivesse acabado aqui, todos iriam embora sem ter nada para reclamar. Ao contrário, a satisfação em presenciar arte da mais alta qualidade em cada nota dos clássicos do Celtic Frost e das músicas transtornadoras do Triptykon valeria todo e qualquer esforço. Mas, como eu já mencionei, essa era uma noite especial. A sequência com “Massacra”, “Reaper” e “Messiah”, todas do cultuado e seminal Hellhammer, fez o público transbordar de emoção. Rodas se abriram, punhos se levantaram, cabeças bateram e gritos soaram mudos frente ao poder do som que saía dos PA’s. A presença de palco de Warrior é magnetizante. Porém, cabe dizer, muito bem acompanhado por Vanja Šlajh e V. Santura, que fazem uma linha de frente especial. Antes de fechar os clássicos com “Morbid Tales”, Warrior perguntava aos presentes: ‘Are You Morbid?’ E, cada ovação vinda da plateia, ele perguntava novamente. Mais uma vez, execução perfeita, agressiva e cortante, como sempre todos imaginaram que essa música soaria ao vivo.

Para fechar a noite, a hipnotizadora “The Prolonging”, do primeiro álbum do Triptykon. Uma viagem de 20 minutos em um vórtex de escuridão e pesadelo. Um final digno de um dos shows mais históricos da música extrema em solo brasileiro e que merecia um público muito maior. Talvez esses eventos sejam mesmo destinados a alguns escolhidos. Sorte de quem pôde presenciar. E que essa noite possa se repetir muito mais vezes. UH!

1. Procreation (of the Wicked) (Celtic Frost)
2. Dethroned Emperor (Celtic Frost)
3. Goetia
4. Circle of the Tyrants (Celtic Frost)
5. Ain Elohim (Celtic Frost)
6. Into the Crypts of Rays (Celtic Frost)
7. The Usurper (Celtic Frost)
8. Altar of Deceit
9. Babylon Fell (Celtic Frost)
10. Necromantical Screams (Celtic Frost)
11. Massacra (Hellhammer)
12. Reaper (Hellhammer)
13. Messiah (Hellhammer)
14. Morbid Tales (Celtic Frost)
15. The Prolonging

Stefan Häberli | Foto: Leandro Cherutti
Stefan Häberli | Foto: Leandro Cherutti
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