Glenn Hughes no Rio de Janeiro: rock’n’roll de uma safra única

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Voz e carisma de Glenn Hughes conduzem os fãs do músico inglês a uma viagem no tempo no Circo Voador

Por Marcelo Valença
Fotos: Rodolfo Bragantini

Glenn Hughes
29/04/2018, Circo Voador, Rio de Janeiro/RJ

Quando se quer elogiar alguém mais velho, é comum usarmos o clichê: “Você é como o vinho…” Mas, cuidado! Porque nem todo vinho envelhece bem. Alguns até viram vinagre. Não é o caso de Glenn Hughes, de 66 anos, que levou cerca de duas mil pessoas para uma degustação de rock em plena Lapa. Em aproximadamente duas horas de show, o veterano inglês, como um sommelier sonoro, revisitou alguns de seus melhores momentos na carreira. Os anos entre 1970 e 1976 proporcionaram safras musicais inesquecíveis. Para muitos apreciadores, como eu, as melhores já concebidas e produzidas no rock.

Para abrir os trabalhos, Glenn e o trio de músicos que o acompanha detonaram o petardo “Stormbringer”, faixa-título do álbum de 1974, seu segundo trabalho com o Deep Purple. E o sueco Søren Andersen (guitarra), o dinamarquês Jay Boe (teclados) e o chileno Fer Escobedo (bateria) mostraram entrosamento com o patrão desde os primeiros acordes.

Sem deixar a poeira baixar, veio logo a segunda dose: “Might Just Take Your Life”, de “Burn” (1974), uma das obras de arte gravadas pelo Purple. A partir daí foi uma sucessão de clássicos. Os arranjos estavam muito próximos aos que consagraram gravações ao vivo como as de “Made in Europe” e “Live in London”. “Mistreated” foi executada com extrema qualidade, e o que falar de “You Fool No One”? Com direito a solos de bateria e guitarra. Como manda o figurino da década de 70.

Glenn Hughes | Foto: Rodolfo Bragantini
Glenn Hughes | Foto: Rodolfo Bragantini

Apesar de “Burn” (1974) ser reconhecido como o álbum mais inspirado da formação com David Coverdale (vocal) e Glenn Hughes (baixo e voz), canções como “This Time Around”, “Gettin’ Tighter” e “You Keep on Moving” representam o melhor da passagem de Hughes pelo grupo. As três músicas de “Come Taste the Band” (1975) mostram um artista no auge da interpretação. Pena Tommy Bolin, que substituiu o guitarrista Ritchie Blackmore, ter partido tão cedo… A parceria entre ele, Hughes, Coverdale tinha tudo para criar momentos ainda mais geniais.

Ao vivo, apesar da idade, o bom e velho Glenn Hughes continua cantando muito, com técnica e sentimento na medida certa. Todas as 11 canções do repertório escolhido para a apresentação carioca foram executadas com a elegância e o suingue de quem bebeu na fonte do rhythm’n’blues. A sonoridade da música negra, aliás, foi e é o que continua dando vida ao rock’n roll. São as tais notas que mexem com os sentidos do apreciador. Estão vendo como as artes do vinho e da música estão sempre se misturando?

Søren Andersen | Foto: Rodolfo Bragantini
Søren Andersen | Foto: Rodolfo Bragantini

Os hinos “Smoke on the Water” e “Highway Star”, da obra-prima “Machine Head” (1972), gravados originalmente com Ian Gillan nos vocais, nem precisavam estar no repertório. Poderiam dar lugar a outras músicas que tivessem mais da personalidade de Glenn Hughes. Mas não incomodaram. De forma alguma. A lamentar somente a falta de “Holy Man”, de “Stormbringer” (1974), excluída do set list no Rio, mas nada que o encerramento com a antológica “Burn” não pudesse queimar da memória. O adjetivo “harmônico” é dado aos vinhos equilibrados, que deixam uma agradável sensação ao serem apreciados. Diria que o mesmo elogio cabe como uma luva para essa quinta passagem de Glenn Hughes pelo Rio de Janeiro.

Outra coincidência diz que “afinado” é o “vinho que evoluiu corretamente, adquirindo perfeito equilíbrio”. Parece ou não que estamos falando da “Voz do Rock”? “Vem provar a banda” é a tradução livre para o título do álbum de 1975. A capa, com os membros da banda dentro de uma taça de vinho, é um convite que permanece atual, assim como as qualidades de Glenn Hughes. Não sou um estudioso dos vinhos, apenas um apreciador. Mas quando o assunto é rock, posso garantir que já recebi boas aulas. Esta no Circo Voador foi mais uma. O coroa sabe das coisas!

Jay Boe | Foto: Rodolfo Bragantini
Jay Boe | Foto: Rodolfo Bragantini

Um brinde!

Aperitivo: a banda carioca Seu Roque abriu a noite e fez um show honesto, intercalando clássicos de ícones como Led Zeppelin e The Doors com composições próprias. O aperitivo adequado para o que estava por vir. Funcionou como um bom vinho rosé.

1. Stormbringer
2. Might Just Take Your Life
3. Sail Away
4. Mistreated
5. You Fool No One
6. This Time Around
7. Gettin’ Tighter
8. Smoke on the Water / Georgia on My Mind
9. You Keep on Moving
10. Highway Star
11. Burn

Fer Escobedo | Foto: Rodolfo Bragantini
Fer Escobedo | Foto: Rodolfo Bragantini
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