Pearl Jam dá aula em show histórico no Maracanã

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Lenda do Grunge e Royal Blood se encontram com os fãs cariocas

Fotos: Daniel Croce

Pearl Jam e Royal Blood
21/03/2018, Maracanã, Rio de Janeiro/RJ

Abrindo para o Pearl Jam e em sua segunda vez num palco maior do que o seu som – a primeira foi no Rock in Rio de 2015, abrindo para Mötley Crüe e Metallica –, Mike Kerr (vocal, baixo e teclado) e Ben Thatcher (bateria) mostraram que, apesar das boas ideias musicais, ainda precisam passar por plateias menores. Isso porque faltam ao Royal Blood carisma e truques para segurar público de estádio. Além disso, a já desgastada fórmula de retirar um dos instrumentos da tríade guitarra-baixo-bateria não oferece recursos necessários para voos mais altos.

Limitados pela ausência de um terceiro instrumento, eles perdem na construção de dinâmicas sonoras, o que proporcionaria maior diversidade à apresentação. Mesmo com boas músicas – “Lights Out” e “Figure It Out”, por exemplo – a dupla ainda soa como uma versão esquálida do Queens of the Stone Age. Depois de 55 minutos de show, Kerr e Thatcher deixaram o palco sem entusiasmar quem chegou cedo. Ainda estão aprendendo.

Mike Kerr (Royal Blood) | Foto: Daniel Croce
Mike Kerr (Royal Blood) | Foto: Daniel Croce

1. Where Are You Now?
2. Lights Out
3. Come on Over
4. I Only Lie When I Love You
5. Little Monster
6. Hook, Line & Sinker
7. Hole in Your Heart
8. Loose Change
8. Figure It Out
10. Out of the Black

Coisa que os anfitriões da noite não precisam. Na verdade, o oposto. No auge da maturidade, o Pearl Jam demonstrou a habitual segurança, aliada a um encadeamento sublime de canções. “Release” veio lenta, hipnótica e envolvente. Foi o suficiente para o público de 50 mil pessoas delirar. “Low Light” e “Elderly Woman” evoluíram uma na outra até explodir na energética “Go”. Era hora de animar com mais dois bons rocks: “All Night” e “Animal” criaram climas juntos a cenário e iluminação, ambos belíssimos.

Mas foi na hora em que Jeff Ament, “O Xerife” – alcunha que Eddie Vedder entrega à plateia na apresentação do baixista -, apareceu com seu baixo de 12 cordas e dispara as primeiras notas de “Jeremy” que o estádio quase veio abaixo. A história do menino que se mata na sala de aula ainda provoca reações calorosas, mesmo 27 anos após ganhar o mundo quando incluída no clássico “Ten” (1991).

Se o Pearl Jam não possui músicos virtuosos, e isso não faz a menor diferença. Nunca fez, diga-se. É na soma que seus predicados aparecem. Como em “Even Flow”, outra do “Ten”. Perto do seu fim, o grupo abre espaço para Mike McCready fazer um longo solo citando até mesmo “Third Stone from the Sun”, de Jimi Hendrix. Como que tomado pela névoa arroxeada, Vedder dedilha com seu carisma gigante a introdução de “Immortality”. O cantor passou a noite distribuindo sorrisos, tentando acertar nas falas em português – atitude simpática e não forçada – e, acima de tudo, se divertindo.

Eddie Vedder (Pearl Jam) | Foto: Daniel Croce
Eddie Vedder (Pearl Jam) | Foto: Daniel Croce

Ele dedicou a música seguinte, “Wishlist”, aos amigos do Red Hot Chili Peppers. A amizade entre as bandas vem de longa data: um Pearl Jam recém-saído das fraldas discográficas pegou carona com os pimentões para uma turnê na qual foi banda de abertura. Anos depois, o primeiro baterista do Red Hot, Jack Irons, integrou o grupo e gravou dois álbuns: “No Code” (1996) e “Yield” (1998).

A raivosa “Mind Your Manners” e a faixa-título do último lançamento do grupo, “Lightning Bolt” (2013), fazem o público se aquietar um pouco. O que não acontece com a pouco executada “Garden”. De beleza estonteante, é a joia escondida no álbum de estreia. Brilhou com o verde da iluminação e com a performance do sexteto – Stone Gossard (guitarra), Matt Cameron (bateria) e Boom Gaspar (tecladista que acompanha a banda ao vivo) fecham a formação do Pearl Jam.

Vem álbum novo por aí, e ele já tem a primeira música de trabalho: “Can’t Deny Me”. Vedder chama Chad Smith, baterista do Red Hot, para tocar cowbell em uma música nunca antes ouvida pelo músico. Em sua introdução, o vocalista discursa: “Não é bom ter um líder ruim. O povo deve ser o líder”. No meio da canção ele aparece com uma máscara de Donald Trump.

O Pearl Jam nunca fugiu de uma boa briga por causas que acredita e, menos ainda, de manifestar suas posições políticas. Havia no ar alguma expectativa sobre uma possível menção à morte da vereadora Marielle franco, o que não ocorreu. Nenhuma questão política brasileira foi abordada. Nesse universo polarizado, pareceu sábio a ausência de comentários dessa natureza. E a primeira parte do show chegou ao fim com “Porch”. Sim, daquele primeiro álbum cheio de hits clássicos.

Stone Gossard (Pearl Jam) | Foto: Daniel Croce
Stone Gossard (Pearl Jam) | Foto: Daniel Croce

Banquinhoss no palco e ukulele posicionado, e a banda apresenta a bela e suave “Sleeping By Myself” com um tom bem intimista. Antes da música, Vedder diz que há muito tempo não via as pessoas tão tranquilas, sem o empurra-empurra comum na frente do palco e lembrou a todos da “segurança em primeiro lugar”. Eco do passado: em 2000, nove pessoas morreram imprensadas durante show no festival de Roskilde, na Dinamarca. Talvez uma ferida que nunca se feche para o grupo.

Com clima de grandes sucessos, a segunda parte continuou com “Do the Evolution”, “Daughter” e a balada das baladas, “Black”. Em um mar vermelho, Vedder canta sobre o amor perdido e pergunta: “I know someday you’ll have a beautiful life I know you’ll be a star in somebody else sky, but why can’t it be mine?” (“Sei que um dia você terá uma vida linda Sei que serás a estrela no céu de alguém Por que não pode ser no meu?”). Arrepiou com o coro de 50 mil vozes.

Antes de “Leaving Here”, cover do The Who, mais um recado. “A próxima música é para todas as mulheres fortes de nossas vidas. Mães, filhas, irmãs e namoradas. Só os homens fracos não as apoiam. Esta música é para os homens fortes que ajudam na luta pela igualdade”. O vocalista do Pearl Jam ainda transformou sua dificuldade em puxar o riff da música em piada. Depois da terceira tentativa, engatou. E olha que o The Who é a sua banda predileta.

Mike McCready (Pearl Jam) | Foto: Daniel Croce
Mike McCready (Pearl Jam) | Foto: Daniel Croce

Como o show atrasou 30 minutos, as três últimas músicas foram executas com as luzes do estádio acesas, sinal de que o Pearl Jam havia esgotado o tempo limite. Mas isso não intimidou a banda. “Alive”, que começou ainda com iluminação de palco, seguia seu curso normalmente quando McCready, pouco antes de entrar no solo, retirou a guitarra e a entregou para alguém que não estava visível. Parecia algum problema técnico, o que teria forçado o músico a entregar o instrumento para o roadie. Eis que entrou o guitarrista do Red Hot, Josh Klinghoffer, tocando o solo da música em suas posições de contorcionista. McCready, por sua vez, se dirigiu ao fundo do palco, pegou uma câmera fotográfica e registrou o momento.

E não havia acabado. Você já viu aquelas jams nas quais músicos de várias bandas se juntam no palco para tocar um clássico do rock, naquele clima de grande camaradagem? Pois foi o que aconteceu quando “Rockin’ in the Free World” veio com as luzes acesas, o que até conferiu um ar bacana. Vedder correu para pegar uma de suas guitarras para Klinghoffer, enquanto Chad Smith ficou de pé ao lado de Cameron – que tocou vestindo uma camisa com um desenho do rosto de Chris Cornell, seu companheiro de Soundgarden morto no ano passado.

Quando o poderoso riff saiu da guitarra de Gossard, foi uma festa foi o que aconteceu. Uma grande festa de músicos que se divertem e não encaram show como algo enfadonho. No meio do clássico de Neil Young, Cameron cedeu seu lugar a Smith, que em pouquíssimo tempo mostrou por que é um excelente baterista. Todos sorrindo e Vedder se banhando com uma de suas inúmeras garrafas de vinho.

Soou o acorde final. Poucas vezes, um fim faria tanto sentido. Fim? Quem falou que acabou? Espera aí que ainda teve “Yellow Leadbetter”. Não precisava, mas tudo bem. É um lindo lado B totalmente inspirado em Jimi Hendrix. Agora, sim, podem ir. Mas tenham certeza de que bandas como Pearl Jam se tornaram raridade, e shows como esse, inesquecíveis.

Jeff Ament (Pearl Jam) | Foto: Daniel Croce
Jeff Ament (Pearl Jam) | Foto: Daniel Croce

1. Release
2. Low Light
3. Elderly Woman Behind the Counter in a Small Town
4. Go
5. All Night
6. Animal
7. Given to Fly
8. In Hiding
9. Jeremy
10. Corduroy
11. Even Flow
12. Immortality
13. Wishlist
14. Mind Your Manners
15. Lightning Bolt
16. Garden
17. Can’t Deny Me
18. Porch
19. Sleeping By Myself
20. Inside Job
21. Daughter
22. Do the Evolution
23. Black
24. Leaving Here
25. Blood
26. Better Man
27. Alive
28. Rockin’ in the Free World
29. Yellow Ledbetter

Fãs do Pearl Jam | Foto: Daniel Croce
Fãs do Pearl Jam | Foto: Daniel Croce
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