O jeito “certo” de fazer Arte

Tenho presenciado no crescimento artístico mundial que as pessoas têm várias soluções rápidas para dizer que seu trabalho tem consistência

Galileu Galilei, por Justus Sustermans 1636
Galileu Galilei, por Justus Sustermans 1636

Algumas vezes, nos primeiros momentos da manhã, os pensamentos são um pouco diferentes. Em relação à forma engrenada que o cérebro opera no dia a dia, a gente costuma deixar algumas coisas inesperadas virem, de pequenas piadinhas, para animar o início da jornada, a lembranças que a gente desenterra. E com todas as influências e discussões entrincheiradas nas redes sociais, e pelo fato de que lido muito com alunos de todos os tipos, me lembrei de uma vez em que fiz parte de uma peça de teatro da escola, sobre Galileu Galilei.

Já faz mais de 15 anos, e eu não lembro dos detalhes, mas algumas coisas me marcaram com um significado bem pessoal: a interpretação do Galileu pelo melhor professor de física que já tive, o Gil Marcos Ferreira; o fato de que esqueci minhas falas bem no meio da apresentação e, no desespero, acabei me enrolando (parece que, ao menos, ninguém percebeu, graças a Deus), e a dramaturga convidada pela professora de teatro, para ajudar a elaborar mais a peça.

Vale dizer, para quem não sabe, que Galileu, segundo a peça de Bertolt Brecht, perigava seguir os passos de Giordano Bruno, a ser queimado em 1600 na fogueira, pela inquisição, por Blasfêmia e Heresia.

Agora… na minha opinião, é uma peça excelente. Eu me diverti muito, e não pensava muito em contexto aos 16 anos de idade, mas entre performances e sugestões, eu não tirei da cabeça a ideia da dramaturga, de colocar um dos personagens que apoiava Galileu, entrando no palco em um globo da morte!

Imaginem a cena da mulher explicando para a professora de teatro, cujo filho, também de 16 anos, ia ser escalado para dirigir a motocicleta dentro de um globo gigante de aço sem prévia experiência. E eu nem mencionei o orçamento.

Esta pequena anedota ilustra o pensamento que algumas escolas e artistas vêm trazendo às discussões e à sala de aula. Eu sou ilustrador. Como professor de desenho e composição, sou bombardeado diariamente por discussões sobre “a verdade da arte”, “o jeito certo de fazer críticas”, “qual o estilo certo para ter dinheiro”, entre tantas outras que, embora válidas, em alguns momentos, perdem contexto. Contexto para mim, é tudo.

Poderia enumerar outras histórias, mas meu bottom line é que o que tenho presenciado no crescimento artístico mundial é que as pessoas têm várias soluções rápidas para dizer que seu trabalho tem consistência, mas esquecem a realidade filosófica por trás do conceito da própria arte. A VOZ INTERIOR. Você não precisa ficar na arte visual. Em música, dança, dramaturgia, sempre têm o/a dramaturgo/a do globo da morte tentando ser especialmente criativo sem pensar no PORQUÊ das coisas serem postas em qual lugar. É a violência de “Clube da Luta”. Uma ferramenta narrativa, ao contrário de “O Albergue”, em que é uma exibição vazia de tortura.

Quando falo da realidade artística, ela está em aberto para cada pessoa. Não é uma verdade universal, porém acredito firmemente que para ela realmente gerar mudanças no contexto social ou pessoal, ela precisa de significado. Seja você expressando os pensamentos bobos do começo do seu dia ou a realidade política do seu país, a arte tem um papel muito importante e não pode ser negligenciada.

Proponho, assim, um exercício, em parte simples, porém, para muitos, difícil. Seja você músico(cista), dançarino(a), ilustrador(a), ao começo do seu dia, pegue o seu instrumento, e faça algo sobre você. Qualquer coisa. Pode ser a paixão que você tem por chocolate, a dor que está sentindo porque alguém querido está sofrendo, aquela coisa que você sempre pensou mas achou bobo colocar a ideia para fora. Use a sua voz.

Depois de alguns dias, quem quiser, conte os resultados nos comentários.

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