Loverboy: ainda trabalhando nos fins de semana

Guitarrista Paul Dean é grato aos fãs por permitirem que faça o que mais gosta

Loverboy mantendo seu legal vivo junto aos fãs | Foto: divulgação
Loverboy mantendo seu legal vivo junto aos fãs | Foto: divulgação

É incrível como o tempo passa. A canadense Loverboy já está prestes a completar 40 anos de uma carreira que, de uma forma ou de outra, nunca parou. A banda, responsável por hits como “Turn Me Loose”, “The Kid is Hot Tonite”, “Working for the Weekend”, “When It’s Over”, “Hot Girls in Love”, “Queen of the Broken Hearts”, “Lovin’ Every Minute of It”, “Dangerous”, “This Could Be the Night”, “Heaven in Your Eyes”, “Notorious”, entre outros, sempre esteve se apresentando ao vivo e seus fãs permaneceram fiéis. Para falar sobre o passado e o presente, e contar várias curiosidades envolvendo Kiss, Chuck Berry, Jon Bon Jovi, entre outros, batemos um papo com o guitarrista Paul Dean.

O Loverboy lançou recentemente o novo single, “Stop the Rain”, e em 2016 soltaram “Some Like It Hot”, “Keep It Up” e “Hurtin”. Como é a programação de lançamentos atualmente? Por que não lançar essas músicas juntas em um álbum de dez faixas de uma vez?
Paul Dean: Bem, eu venho lendo muitos blogs e acabei concluindo que essa é a nova maneira de fazer as coisas. Quem tem tempo de sentar e ouvir um álbum de AOR ou qualquer álbum? Eu mesmo demoro uma semana para absorver um disco inteiro, por causa do tanto de música que há disponível atualmente. Teremos sorte se conseguirmos gerar um mínimo de interesse no que fazemos, porque a maioria das pessoas quer mesmo é ouvir as coisas antigas. Ainda bem que eles gostam delas tanto quanto nós. A minha maneira de encarar isso é que lançamos as músicas para nossos fãs e os avisamos através do Facebook e do nosso site. Lançamos “Hurtin”, que foi composta recentemente, e “Some Like It Hot”, que era uma demo de 1988 ou 89. Achei que essa música tinha se perdido, mas quando fomos passar nossas músicas de analógico para digital, o cara que estava fazendo isso para nós fez uma lista e lá estava ela. Eu nem lembrava que ela se chamava “Some Like It Hot”. E a “Stop the Rain” é a mesma história, foi durante o mesmo processo.

Vocês estão fazendo um concurso para os fãs criarem um clipe para “Stop the Rain” (no www.loverboyband.com/stoptherain). Vi alguns dos candidatos no YouTube e há várias interpretações bem artísticas para o que é essa música.
Dean: Foi muito legal. Eu dirigi os últimos clipes e achei bem interessante. Para o de “Hurtin” nós filmamos em Vancouver e ele meio que tinha um tema. Um fã fez outra versão para ele e achei que ficou muito bem feito. E esse mesmo cara mandou um para “Stop the Rain”, que nós adoramos e então ele ganhou o prêmio, que era uma guitarra. Quando mencionei essa ideia do concurso para o Mike (Reno, vocalista) ele disse: “Você quer dizer, pegar outra pessoa para fazer nosso vídeo? Brilhante!” Alguns dos vídeos que recebemos eram bem legais!

E é mais barato do que um vídeo convencional. Voltando ao último álbum, “Unfinished Business” (2014), que é mais ou menos a mesma história de você vasculhando suas caixas com fitas e achando músicas que estavam jogadas por aí. Isso quer dizer que haverá um “Unfinished Business II” no futuro?
Dean: Não sei, não sei se temos tanta coisa assim. Estou com muitas músicas novas que preciso levar a Mike (Reno) e ver se ele gosta. Ele tem que cantar, escrever as letras, interpretar… Tem que vir do coração e alma dele, não dá para ser eu. Se ele concordar e pensar da mesma forma que eu, ou achar que é um bom começo, mas que devemos mudar algumas coisas, sou 100% aberto a isso. Ele é um ótimo parceiro de composição. Eu não sei se ele quer compor novas músicas, mas falamos sempre sobre isso. Às vezes, eu o lembro de alguma música que nos foi mostrada há algum tempo e ele gosta. Vamos ver, no momento temos três novas músicas lançadas e é isso.

O prêmio para "Stop the Rain"
O prêmio para "Stop the Rain"

Você tem aquela visão artística de que tem que continuar sendo produtivo e compondo, porque é isso que um músico faz? Porque, sejamos sinceros, se um fã vai ao seu show e não ouve “Working For The Weekend” ou “Turn Me Loose” ele vai embora decepcionado, então você tem que tocá-las. Mas, para você, existe a necessidade de fazer músicas novas e ser criativo?
Dean: Sim, eu preciso disso. Em um aniversário meu há alguns anos, Mike fez um pequeno discurso e disse que era uma pessoa que nunca parava de trabalhar. Eu adorei isso. Mas é verdade, se existe alguém determinado no mundo sou eu. Estou sempre fazendo algo. Se não estou trabalhando na minha guitarra, tentando achar o timbre perfeito, estou tentando encontrar alguma que eu perdi. É o que faço. E eu também adoro trabalhar em mixagens de outras pessoas.

Nós vamos envelhecendo e as bandas começam a ter apenas um integrante original ou, às vezes, nenhum. Se Mike Reno sair do Loverboy, você não vai fazer uma turnê com a sua versão da banda, certo?
Dean: Bem, quem sabe? Por que ele sairia?

Esse é um bom argumento.
Dean: O lance com Mike é o seguinte: eu estive presente em todas as gravações de vocal, desde o início. Mesmo com Bruce Fairbairn (N. do T.: Bruce produziu o debut homônimo da banda, de 1980), era eu quem dava os palpites nos vocais de Mike. Agora, devido aos avanços da tecnologia, não preciso mais ficar falando no ouvido dele através de um fone. Eu me sento ao lado dele enquanto ele está cantando e você não tem como substituir isso. Se você dá essa oportunidade a qualquer fã… Isso me mantém como o maior fã dele, porque passo por essa situação. Tem algo na voz dele, especialmente nas baladas, e ele realmente entra nas letras, não dá para analisar. Ele passa isso na gravação, mas estar lá, no momento… É um grande relacionamento desde o início e agora é muito mais legal porque é um ao lado do outro.

Voltando no tempo, seu álbum solo “Hardcore” (1989) traz uma música composta por Paul Stanley e Bruce Kulick, “Sword and Stone”; há uma de Bryan Adams e Jon Bon Jovi também está lá. Fale um pouco sobre esse lançamento, como ele aconteceu e porque foi feito. E como conseguiu que o Kiss doasse uma música, porque era uma demo da banda que nunca foi gravada por eles, mas você gravou. Como tudo isso aconteceu?
Dean: Não consigo lembrar o nome do principal compositor dessa música…

Desmond Child.
Dean: Desmond Child! Ele estava em New Jersey quando fui lá para compor e passar um tempo com Jon Bon Jovi e Richie Sambora. Nós compusemos algumas músicas, como “Notorious” e mais umas três ou quatro que jamais foram lançadas, e eu não tenho as cópias ou sequer ideia de onde estão. Enfim, Desmond me deu a música e disse que eu poderia considerá-la para o Loverboy. Levei-a junto com as outras para Mike, que ouviu todas, mas achou que nenhuma se encaixava no estilo dele. Aí, eu decidi que dava para eu cantar, e foi isso.

Você mencionou Richie Sambora e Jon Bon Jovi e eles compuseram “Under The Gun” com você. Como isso aconteceu?
Dean: Isso foi só uma conveniência. Tinha reservado um estúdio em Vancouver (CAN) e estava usando a sala maior enquanto eles estavam na sala menor, que ficava ao lado, fazendo overdubs em algumas músicas, trabalhando com Bob Rock. Eu conhecia Bob desde 1989 e ouvi Jon tocando gaita. Aí, perguntei se ele queria tocar na música ele aceitou. Foi simples assim.

No álbum “Lovin’ Every Minute of It” (1985), há fatos interessantes, como “Mutt” Lange, que era o produtor do momento, como compositor da faixa-título, mas não o produtor do álbum, que foi Tom Allon. Ainda há Johnathan Cain (Journey) e Bryan Adams como compositores. Como foi trabalhar com Allom (Judas Priest, Black Sabbath, Def Leppard)?
Dean: Eu havia assistido uma entrevista com o Billy Gibbons (guitarra e vocal, ZZ Top) em algum canal de música, e ele pedia mais guitarra na música em geral. Achei que ele tinha razão, e sem desrespeito ao Doug (Johnson, teclado), que é o maior músico com quem já toquei, decidi que queria um álbum mais centrado em riffs. Claro, sem esquecer as melodias e algumas coisas legais de teclado, mas decidi que faríamos um disco de guitarras e não havia ninguém melhor para produzir um álbum assim do que Tom Allon. Aí, acho que Bruce Allen (manager do Loverboy, na época) ligou para ele e ofereceu o trabalho. Tom veio ao nosso ensaio e fizemos algumas semanas de pré-produção. Eu me lembro que ele tinha uma abordagem muito diferente da minha. Sou da escola do Eagles/The Doors quando se trata de mixagem e produção. Gosto delas cruas, com a bateria bem na “cara”, sem efeito. Nenhum efeito na voz, com exceção de algum eco, e poucos efeitos na guitarra. E ele se sentava na mesa de som e colocava toneladas de reverb em tudo. Eu achava que aquilo não estava certo, não era o nosso som. Mas foi legal. Ele aumentava a quantidade de coisas e eu diminuía, mas, de alguma forma, conseguimos terminar o serviço. Porém, era uma pessoa muito engraçada.

Loverboy no início dos anos 80 | Foto: diculgação
Loverboy no início dos anos 80 | Foto: diculgação

Por que descartaram “Mutt” Lange?
Dean: Queríamos muito trabalhar com ele, mas estava ocupado ou não se interessou, algo assim. Porém, de alguma forma, entramos em contato com Mike Shipley, que era o engenheiro de som que trabalhava com ele, para trabalhar conosco. Ele aceitou e quando o álbum ficou pronto, foi ele quem nos fez perceber que ainda não tínhamos um single forte. Então, Mike ligou para “Mutt” e perguntou se tinha algo para nós. Ele pediu um tempo e depois ligou para nós com a faixa-título. Quando ouvi e ele perguntou o que eu achava, eu falei: “Está brincando? Isso é sensacional! Você vai dar essa música só para nós? Não vai dar para o Def Leppard ou mais alguém?” Ele disse que era só nossa e aí mandou para nós!

Sobre a grande música da banda, a que sempre é escolhida para trilhas sonoras, “Working For The Weekend”, acredita que se ela não tivesse estourado o Loverboy ainda estaria por aí?
Dean: Não no nível que estamos. De jeito nenhum. Ela começou com a letra. Eu estava indo a uma praia em Vancouver, em 1980 ou 81, e o primeiro álbum já havia saído. Era uma quarta-feira à tarde e estava um deserto. Achei estranho e pensei: “Acho que estão todos esperando o fim-de-semana [Waiting For The Weekend]”. Bingo! Era é uma grande frase para uma música, queria ver se conseguia fazer algo com isso. Depois de estar quase pronta, foi Mike quem sugeriu a mudança para “Working For The Weekend”.

Eu preciso falar sobre 19 de novembro de 1979, no Pacific Coliseum de Vancouver. O Kiss está fazendo a turnê do “Dynasty”. No dia 6 de agosto daquele ano eu vi o primeiro show da minha vida, que foi o Kiss com o New England. Ou seja, três meses depois vocês fazem seu primeiro show, e não é no ginásio da escola local ou no bar no fim da rua, mas abrindo para o Kiss! Como conseguiram a oportunidade?
Dean: Você vai ter que perguntar a Bruce Allen para quem ele ligou, porque foi 100% coisa dele. Ele que nos contou que íamos abrir o show e a gente achou que era brincadeira. Ele explicou que não íamos começar fazendo exatamente o que você disse: tocando em ginásios e clubes por bilheteria. Depois teríamos que fazer isso, mas, de início, ele queria começar com impacto e nos mandou estar prontos. Demos nosso melhor. Já tocávamos “Turn Me Loose” há alguns meses. O interessante é que fomos alvejados por rolos de papel de higiênico e ainda bem que foi assim. Na semana seguinte, tocamos em um clube em que jogaram cubos de gelo, moedas e pentes de cabo fino na gente, então [o show com o Kiss] foi tranquilo. Foi uma oportunidade e tanto!

O primeiro álbum, “Loverboy”, saiu apenas em novembro de 1980, um ano depois. Vocês já tocavam “Turn Me Loose”, mas tocavam também “The Kid Is Hot Tonight” ou só a primeira e seis covers?
Dean: Nós nunca tocamos um cover na nossa carreira. Tínhamos algumas outras, que não estavam totalmente prontas em que eu cantava. Sim, nós tocamos “The Kid Is Hot Tonight”. Na segunda-feira após o show, fizemos uma apresentação de três entradas em um clube pequeno e ninguém nos conhecia, apenas quem havia estado no show do Kiss. A primeira entrada foi recebida com total indiferença e a segunda ia pelo mesmo caminho até tocarmos “The Kid Is Hot Tonight”, pois foi quando começaram a prestar atenção. Aí percebemos que não éramos um desastre, estávamos fazendo alguma coisa certa.

Antes de terminar, eu seria relapso se não lhe perguntasse isso: Chuck Berry faleceu recentemente, aos 90 anos de idade. Ele é a gênese para tudo do rock and roll que veio depois. O modo dele tocar estava eras à frente. Alguma memória dele e o que ele significa para a guitarra? Ele influenciou o seu modo de tocar?
Dean: “Lady of the Eighties”, “Hot Girls In Love” e “Doin’ It The Hard Way”. Todas essas saíram da cartilha de guitarra de Chuck Berry. Tivemos a honra de tocar com ele. Fazia uma coisa interessante: aparecia e contratava uma banda local. E ia com uma guitarra e era só isso. Com certeza, mandava uma equipe antes para escolher os quatro caras que iriam tocar com ele e negociava o pagamento. Um dos shows que fizemos, em Charlotte na Carolina do Norte, o baterista dele teve uma intoxicação alimentar e ele usou o cara que cuidava dos monitores na bateria! Bem informal. Mas não teve problema, ele foi lá e tocou. E tinha 75 anos na época.

Muito obrigado, vou deixar avisado ao público para continuar verificando o site loverboy.com para ficar sabendo das datas das turnês, já que vocês estão sempre tocando.
Dean: Pois é, continuamos tocando bastante. Eu não acredito em quantos shows ainda conseguimos marcar e o quanto as pessoas ainda querem nos ver. Isso é a melhor coisa que existe. Tocar nossas músicas, com esses caras, para nossos fãs? Sim, é o que quero!

Matt Frenette, Paul Dean, Scott Smith, Mike Reno e Doug Johnsson | Foto: divulgação
Matt Frenette, Paul Dean, Scott Smith, Mike Reno e Doug Johnsson | Foto: divulgação

Transcrito e traduzido por Carlo Antico

The Secret Society 300

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